Comunidades do Território Tradicional Geraizeiro recebem Secretarias do Estado de MG e Equipe de estudiosos para abertura dos trabalhos do Relatório Antropológico
“Animados pela Fé, e bem certos da vitória, vamos fincar nosso pé e fazer a nossa história e fazer a nossa História animados pela fé!”
Nos dias 06 e 07 de maio agora de 2022, as Comunidades Geraizeiras do norte de Minas Gerais se reuniram para dar início aos trabalhos da construção do Laudo Antropológico do seu território dos Núcleos de Lamarão e Tingui. Estavam presentes Secretarias do Estado de Minas Gerais: a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SEAPA), representada por Gideão Cardoso Mendes, Assessor Técnico na Superintendência de Arrecadação e Gestão Fundiária; a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDESE), representada por Cléver Alves Machado, Coordenador Estadual de promoção da Igualdade Racial e ainda as equipes técnicas multidisciplinares da Universidade Federal de MG (UFMG), coordenadas pelos professores doutores Aderval Costa Filho, da UFMG/BH e Hélder dos Anjos Augusto, da UFMG/Montes Claros.
Um dia histórico na luta coletiva do Povo Geraizeiro que percorreu um longo caminho para que esse momento se tornasse realidade. Com o apoio e acompanhamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), as Comunidades Geraizeiras se organizaram e enviaram os ofícios solicitando as emendas parlamentares que apoiassem com recursos financeiros para a construção dos laudos. As solicitações foram atendidas e apoiadas pelos mandatos dos deputados Federais do Patrus Ananias e Padre João.
Memória desse processo…
O Território Geraizeiro se localiza no norte do sertão de Minas Gerais e vem passando por processos de violações de direitos desde a década de 1970, com a chegada da monocultura de eucalipto na região incentivada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, que fez empresas eucaliptadoras invadirem as chapadas, áreas de uso comum dos geraizeiros, expulsando as famílias tradicionais de suas áreas. A região também é marcada por um processo escandaloso de grilagem de terras por empresas e latifundiários. Há tese de doutorado na USP que demonstra que cerca de 50% dos documentos de terras no norte de MG são falsos. As Comunidades Geraizeiras que são apoiadas e acompanhadas pela CPT fortaleceram sua organização e lutam para que possam garantir a permanência das famílias em suas áreas. Em julho de 2018, 73 Comunidades de Geraizeiros foram formalmente reconhecidas pela CEPCT’s (Comissão Estadual para o Desenvolvimento de Povos e Comunidades Tradicionais do Governo de MG) e de lá para cá a luta é para que o Governo de Minas Gerais faça a regularização fundiária do Território Geraizeiro que, injustamente, continua invadido por muitas empresas do agronegócio, de monocultura, carvoaria e mineração devastadora. Os processos com os pedidos para a Regularização Fundiária dos três núcleos do território – Josenópolis, Lamarão e Tingui – já estão abertos no Governo de Minas Gerais desde 2018, e desde então as Comunidades Geraizeiras aguardam o início desse processo. Basta de morosidade cúmplice da opressão!
As Comunidades Tradicionais Geraizeiras que vêm tendo seus direitos violados de forma recorrente desde a década de 1970, desde 2012 também têm enfrentado a luta contra a mineração da mineradora Chinesa SAM (Sul Americana de Metais S/A), que pretende se instalar no território e usar a água que ainda resta para lavar minério de ferro, construir um mineroduto do norte de MG até Ilhéus na Bahia e fazer a maior barragem de rejeitos minerários tóxicos do mundo. Minerar em um território semiárido é absurdo dos absurdos. Não aceitaremos em hipótese alguma esta maldita mineração da SAM, que será dragão do Apocalipse na nossa região.
Em sintonia com as Comunidades Geraizeiras, lutamos juntos em defesa da nossa Casa Comum, porque percebemos que fazemos parte de uma única família – os humanos e os não humanos – e estamos todos e todas conectados, na luta em defesa do chão sagrado dos territórios tradicionais, das nossas águas tão cobiçadas pelo monstro da mineração devastadora, na luta contra a fome que assola nossos irmãos e irmãs, tanto no campo quanto na cidade, e na luta pela garantia de permanência dos Povos Geraizeiros em seus territórios para sua reprodução social, cultural, histórica e humana. Os desafios e ameaças continuam gigantescos e se fazem presentes na luta e na vida do nosso povo em suas mais variadas formas, porém, maior ainda é nossa esperança e utopia de que possamos lutar pela construção de uma sociedade justa, fraterna, igualitária e sustentável ecologicamente.
Na luta coletiva e na raça conquistamos nossos direitos! Basta de mineração devastadora! Fora, mineradora SAM do norte de MG! Sim à Regularização de todos os Territórios das Comunidades Tradicionais Geraizeiras do norte de MG!
Montes Claros, capital dos Gerais, do norte de MG, 09 de maio de 2022
Assinam esta Nota:
Comunidades do Território Tradicional Geraizeiro do norte de MG
Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)