NOTA DO I ENCONTRO DAS MULHERES DA CPT-MG, em 03 e 04/3/2018, em SABARÁ, MG.
Aconteceu, nos dias 3 e 4 de março de 2018, um momento histórico na nossa Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG). Foi realizado o 1º Encontro de Mulheres da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais. Em 30 anos de história, foi a primeira vez que nós, mulheres da CPT Minas, nos reunimos para debater uma pauta elabora por e para as mulheres que estão na luta pela terra, água, justiça e dignidade no campo. Contamos com a assessoria de Solange Monteiro e da Dra. Maria do Rosário Carneiro, advogada popular. Porém, coletivamente o encontro foi construído, inclusive, com a colaboração dos homens da CPT que assumiram as tarefas da casa e da cozinha enquanto as mulheres realizavam o encontro.
Em nossa pauta estava um olhar para nós mesmas, para conhecer quem somos, qual o rosto das mulheres da CPT Minas: que religião professam, que papel exercem como mulheres na vida pessoal (casadas, solteiras, mães, filhas, entre outros). Como nos inserimos na vida pública: que escolarização possuímos, a que etnia pertencemos, onde vivemos e que vínculo possuímos com a CPT. Neste último ponto, descobrimos que apenas 26% são agentes liberadas, ou seja, que recebem remuneração pelo seu trabalho. A grande maioria está composta por voluntárias e colaboradoras, o que demonstra o esforço que fazemos para compor o quadro de agentes e quanto nossa causa é capaz de mobilizar tão relevantes quadros.
Diante disso, passamos para a reflexão de “quem somos, podemos e queremos”, lembrando que cada verbo destes nos leva do pensamento à ação, traçando uma trajetória e fazendo uma ponte entre a visão que temos de nós mesmas até os nossos anseios pessoais e coletivos mais amplos, que movem nosso fazer diário, e que sempre merece uma pausa para a reflexão.
Passamos, então, para uma exposição, brilhantemente conduzida pela Dra. Rosário, Advogada Popular, comprometida com a luta da CPT e com as demais lutas populares, a respeito do histórico de lutas femininas no Brasil que partiu das violências da colonização e demonstrou as violências da colonialidade presentes nos dias atuais. Poderíamos nos deter neste ponto por longo tempo. Infelizmente, não é tranquila a situação da mulher no Brasil de hoje. Carregamos nas costas, séculos de discriminação, de opressão, exploração, preconceito. Não conseguimos identificar uma só instituição, um só espaço que esteja totalmente imune ao vírus do machismo. Chaga da sociedade que afeta todas nós, em maior ou menor escala. Ficou muito claro, nas referências acadêmicas e nos depoimentos das mulheres presentes, que a discussão de gênero não está na pauta do dia sem motivos. E deve ser incorporada também nas discussões internas da nossa Comissão Pastoral da Terra. Mas, também, detectamos que fomos e somos mulheres de muita luta e que, por toda a história, oferecem sinais de resistências. Os exemplos são inúmeros, graças a Deus.
Neste sentido, fizemos um momento dedicado à memória das mulheres da CPT. Tantos nomes, tantas histórias, tanta luta, tanta graça e tanta beleza. Rezamos, cantamos e dançamos em homenagem a elas e a sua luta, tão importante para nós, para nosso povo e nosso país
Para nossa alegria, a companheira Luziete Rodrigues Novais nos apresentou um projeto que busca aprovação para ser executado pela CPT Minas, nomeado Mulheres camponesas em ação: da invisibilidade ao protagonismo. Primeiro projeto direcionado para mulheres, a fim de oferecer formação, geração de renda e autonomia para camponesas de todo o estado de Minas Gerais. Estamos torcendo para que o financiamento seja aprovado e o projeto alcance sucesso!
Finalmente, passamos para as deliberações do Encontro. Destacamos as principais:
• É nosso desejo que outros encontros aconteçam;
• Criar espaços para interação com os homens da CPT. O combate ao machismo terá muito mais sucesso com participação masculina nos debates e ações;
• Afinar nosso olhar para a questão da mulher em qualquer pensamento ou ação nossa, cotidianamente. E estarmos vigilantes para promover as mudanças que queremos;
• Formar um grupo de estudo sobre os documentos da CPT: Estatuto, Regimento Interno e outros, questionando como a mulher é vista, descrita e inserida na Comissão Pastoral da Terra Sermos propositivas, caso discordemos da abordagem;
• Realizar Encontros nas sub-regionais;
• Indicar representantes para a Equipe de formação. Indicamos os nomes Das companheiras Luziete, Rosário e Letícia;
• Promover a interação das agentes com os Conselhos de Mulheres dos municípios;
• Confeccionar um banner do nosso Encontro e também uma camiseta. Construir nossa memória e nosso lema Somos semente, mulheres da CPT em movimento: ontem hoje e sempre!
• Propor a atualização do símbolo da CPT para que seja incluída a camponesa.
Refletindo sobre nosso encontro, concluímos que teve, de fato, importância histórica. Mas foi o primeiro passo. Iniciamos uma caminhada que demonstra nossa união, nosso compromisso com a luta, mas, também, nossa preocupação com os problemas que afetam as mulheres da CPT. Nossa luta terá mais sucesso quando não tiver que enfrentar as barreiras impostas pelo machismo, pela discriminação, pelo preconceito. Lutamos contra a injustiça, contra o latifúndio, contra as desigualdades socioeconômicas, contra a depredação ambiental, contra o capitalismo explorador e opressor, contra o governo golpista de Michel Temer, contra a perda de direitos que nos está sendo imposta por um Congresso que não nos representa. Buscamos um mundo melhor, mais justo e mais feliz. É urgente que caminhemos ombro a ombro com nossos companheiros, sejam eles maridos, agentes, parceiros, dirigentes, religiosos. Todo e qualquer cidadão é chamado a se unir a nós, mulheres da CPT, para juntos, nem a frente, nem atrás, nem acima nem abaixo, empreendermos a luta e alcançar a vitória que só será completa que for libertadora.
Esperamos contar com mais companheiras. Sabemos das dificuldades de cada uma para se deslocar e dedicar um tempo para nós mesmas. Mas estamos convictas que juntas somos mais fortes e mais capazes do que já somos.
Nossos agradecimentos a todas às participantes, às mulheres e homens, grandes companheiros, que colaboraram na organização e realização desse Encontro, e àquelas que não puderam comparecer, mas estarão presentes no próximo.
Comissão Pastoral da Terra – Minas Gerais