2ª Pré-Romaria da XXI Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais próximo à Cachoeira Casca D’Anta, na Serra da Canastra, MG.
Dia 05 de agosto de 2018, realizamos a 2ª pré-Romaria da XXI Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, próximo à Cachoeira Casca D’Anta, na Serra da Canastra, MG, ao lado do Parque Nacional da Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas, próximo também de Vargem Bonita e do distrito do Barreiro.
Às 9h30, uma calorosa acolhida foi preparada pelas comunidades, na Pousada e restaurante Dois Irmãos, com um café solidário partilhado: café, pão de queijo, biscoito de polvilho etc. Uma delícia! Em seguida, celebramos a Eucaristia ao lado do Córrego do Luciano, um dos muitos afluentes do Rio São Francisco existentes na região da Serra da Canastra, e ao lado de uma mata densa na encosta da Serra da Canastra, onde um pouco abaixo está a Cachoeira Casca D’Anta. O bispo emérito Dom Mauro Morelli presidiu a celebração que contou com a participação de oito padres da Forania de Piumhi, constituída pelas Paróquias de Pimenta, Piumhi, Doresópolis, Capitólio, Vargem Bonita e São Roque de Minas; Padre Tonhão, vigário Geral da Diocese Luz, e frei Gilvander, da CPT, MG. Um grupo musical do Terço dos Homens tocou e cantou bonito. Dezenas de pessoas participaram representando as paróquias da Forania.
Na homilia compartilhada, Dom Mauro Morelli alertou para a beleza da cultura canastreira das Comunidades Tradicionais Canastreiras. Recordou que o Parque Nacional da Serra da Canastra, decretado em 1972, foi imposto a ferro e fogo pelo governo federal que, com o exército e a Polícia Federal, expulsou sumariamente mais de 3 mil famílias, sem pagar a elas nenhum centavo. O Parque compreende 200 mil hectares dos quais 86 mil já estão demarcados. Os proprietários que puderam judicializaram a perda da terra e, após 20 anos de demanda judicial com o Governo Federal, receberam uma indenização injusta. Os pequenos perderam a terra sem receber nem um centavo. Hoje há um esforço para se efetivar um Acordo que garanta o direito sagrado das famílias tradicionais canastreiras de continuarem morando na área do Parque, em sintonia com a preservação do parque. Todos são contra as investidas de Mineradoras que estão de olho gordo na área da Serra da Canastra, porque ali está a maior jazida de diamante do Brasil.
Em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frei Gilvander explicitou o sentido e a mística da Romaria das Águas e da Terra de MG que está sendo realizada anualmente há 21 anos. “Sagrado não é apenas a hóstia consagrada e os santuários. A terra é sagrada e é mãe. Á água é sagrada, é irmã e fonte de vida. A Romaria das Águas e da Terra objetiva contribuir para percebermos a sacralidade que está na mãe Terra e na Irmã Água, nos povos e em todos os seres vivos. Não podemos tolerar mais o sistema capitalista que, como uma máquina de moer vidas, está nos levando a um Apocalipse final e inviabilizando o futuro da humanidade e de todos os biomas. Precisamos frear o progresso, o desenvolvimento econômico e barrar a cultura do individualismo, do consumismo e do usar a terra, a água e todos os bens naturais como mercadoria. O Deus da vida não criou nenhum tipo de monocultura, nem agronegócio, nem mineradora e nem cidade. Dezenas de cidades da Diocese de Luz, em 2017, passaram por racionamento de água. Conclamamos todos para participar do mutirão que é a 21ª Romaria da Águas e da Terra de Minas Gerais que terá a Celebração Final dia 16 de setembro próximo (2018), em Lagoa da Prata. Conclamamos todas as comunidades da Diocese de Luz e de Minas Gerais a vestirem a camisa da 21ª Romaria, a cantar as músicas do Cancioneiro da 21ª Romaria e a realizar os sete Roteiros de Reflexão – a Cartilha da 21ª Romaria. E, obviamente, participar da 21ª Romaria, dia 16 de setembro em Lagoa da Prata”.
Padre Tonhão acrescentou: “Nos últimos 100 anos acabou-se com o Cerrado nos 33 municípios da Diocese de Luz. Se não houvesse monocultura da cana, teríamos mais preservação ambiental e a vida seria mehor. Não podemos continuar tratando a terra e a água como mercadoria. O desafio é grande e está em nossas mãos”.
Após a Missa, tivemos apresentação de um grupo de tocadores e cantadores canastreiros que gravaram um DVD com 11 músicas em defesa da Cachoeira Casta D’Anta e de toda a Serra da Canastra, junto com seu povo.
Um saboroso almoço com legítima comida mineira foi servido a todos/as. Após o almoço, quem pôde caminhou 1 quilômetro e meio e chegou ao lado da Cachoeira Casta D’Anta, “uma das sete maravilhas do mundo”: um santuário natural indescritível. Quem vê não esquece nunca mais e é tocado por amor a se tornar, se ainda não é, em um aguerrido/a defensor da mãe terra, da irmã água e de toda a biodiversidade.
Nossa gratidão a todos/as que organizaram e participaram da 2ª pré-Romaria da 21ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais. O Trem da 21ª Romaria segue sua viagem. A 3ª pré-Romaria acontecerá em breve e, de 8 a 15 de setembro teremos uma Semana Missionária em cerca de 50 comunidades da Diocese de Luz.
Belo Horizonte, MG, 05 de agosto de 2018
Frei Gilvander Moreira, pela CPT/MG.
Obs.: Eis, abaixo, algumas fotografias da 2a Pré-Romaria, fotos de Zenaido.