36º Encontro de CEBs da Diocese de Guaxupé, MG: a igreja que queremos.
Por Delma Maiochi delmaiochi@hotmail.com Colaboração de Paulo Cássio Pereira – Poços de Caldas, MG. Fonte: Jornal Mantiqueira – www.jornalmantiqueira.com.br –
Está acontecendo, desde a última sexta-feira (26/04/2019), em Bandeira do Sul, MG, o 36º Encontro Diocesano das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) da Diocese de Guaxupé, coordenado pelo setor de Poços de Caldas. O tema do encontro é “Igreja de Comunidades e Movimentos Populares” e o lema “A Igreja que Temos e a Igreja que Queremos”. Cerca de 150 pessoas estão participando, incluindo os setores de Poços (Bandeira do Sul, Campestre, Cabo Verde e Poços), São Sebastião do Paraíso, Machado, Passos, Guaxupé, Cássia e Areado.
A assessoria do encontro é de frei Gilvander Luís Moreira, um dos assessores da Comissão Pastoral da Terra da CNBB e do Centro de Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI), e do padre José Luiz Gonzaga, assessor das CEBs da Diocese de Guaxupé. Esteve presente também, na manhã de sábado, o bispo de Guaxupé, Dom José Lanza, que deixou sua mensagem de bênçãos, fé e esperança. O conteúdo dos estudos e reflexões das CEBs no método “ver-julgar-agir-rever e celebrar” deverá também repercutir o tema da recente Campanha da Fraternidade de 2019, que promoveu discussões sobre “Fraternidade e Políticas Públicas” no resgate e defesa dos direitos humanos mais elementares para que cada pessoa tenha condições dignas de vida.
“Na atualidade, as CEBs têm muita importância, principalmente nos pequenos grupos de reflexão em estudos bíblicos e de consciência cidadã na luta pelos direitos, espalhados pelos grupos das paróquias das comunidades. Na visão das CEBs, sempre que se fala em sociedade pensamos em organização popular, participativas em todos os setores, como, por exemplo, nos conselhos municipais da criança, da mulher, do negro, da saúde, do idoso, da educação, nos sindicatos e em todos os âmbitos organizados da cidade. Desta forma, dentro da esperança cristã, acreditamos na luta de que é possível a realização das políticas públicas e de um mundo melhor, ético e justo”, expõe o coordenador e animador das CEBs do setor Poços Mário Pereira.
Para este encontro ecumênico, que acontece anualmente, também foram convidados os índios Kiriris, que estão assentados em aldeia do município de Caldas, no sul de Minas. “Vivemos tempos que exigem de nós uma postura firme, consequente, de uma Igreja em saída, que sacuda o cheiro de incenso e escancare suas portas para o ar que circula nas ruas. Só assim, seremos capazes de traduzir nossa fé em compromisso político-social transformador. Só assim, teremos a audácia e coragem necessárias para assumir, somando com os movimentos populares, a luta e a resistência que garantem os direitos dos pobres, dos trabalhadores, das mulheres, negros, indígenas, sem-terra, sem-teto e sem salário, dos LGBTs e de todos os que têm a vida diminuída e ameaçada. É urgente despertarmos desta tranquilidade cúmplice das opressões que anestesia nossas consciências. Não podemos nos afastar dos grupos que pelejam para tornar factível este outro mundo possível e necessário que acreditamos e construímos. Não podemos ficar fechados nas sacristias e dentro das igrejas. É hora de arregaçarmos as mangas, empunharmos as mãos, erguermos nossas vozes e nos colocarmos a caminho, seguindo os pés descalços de Jesus de Nazaré, ao lado dos injustiçados”, comenta Denis Wilson, jovem participante de Passos.
As Comunidades Eclesiais de Base (CEB) são comunidades inclusivistas ligadas principalmente à Igreja Católica, que, incentivadas pela Teologia da Libertação após o Concílio Vaticano II (1962-1965) se espalharam principalmente nos anos 1970 e 80 no Brasil e na América Latina. Consistem em comunidades reunidas geralmente em função da proximidade territorial e de problemas em comum, compostas principalmente por membros de classes populares, cujo objetivo é a leitura bíblica em articulação com a vida, com a realidade política e social em que vivem e com os problemas cotidianos. As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) constituem um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II na América Latina. Elas são um “jeito antigo e novo de ser Igreja”, como escreveu o cardeal Raimundo Damasceno, ex-presidente da CNBB.
As Comunidades vivem um momento particularmente favorável em nosso país e foram tema prioritário da Assembleia dos Bispos em 2010, receberam o apoio do papa Francisco em diferentes situações. As CEBs surgiram no Brasil como um meio de evangelização que respondesse aos desafios de uma prática libertária no contexto sociopolítico dos anos da ditadura militar (1964 a 1979) e, ao mesmo tempo, como uma forma de adequar as estruturas da Igreja às resoluções pastorais do Concílio Vaticano II, realizado de 1962 a 1965. Encontraram sua cidadania eclesial na feliz expressão do cardeal Aloísio Lorscheider: “A CEB no Brasil é Igreja — um novo modo de ser Igreja”.