Em Itabirito, MG, Aredes resiste diante da ameaça da mineração.
Ao longo dos anos, território de Aredes tem sido marcado por muitas lutas e resistências em favor de sua preservação. Visita técnica reúne especialistas, entidades, comunidade, mineradora e deputados e deputada da Comissão de Meio Ambiente da ALMG.
Por Thomás Toledo
Nesta quinta-feira (10/08/23), mais um dia de avanços na defesa pela preservação do precioso território de Aredes. Uma visita técnica realizada – em dia meio ensolarado e bastante empoeirado, reforçaram as evidências sobre as principais questões que envolvem fortes ameaças de danos ambientais e patrimoniais, além de considerar suas dimensões socais, culturais, históricas e ancestrais. O direito à memória respira em Aredes.
Pois bem, a visita aconteceu por lá, lugar onde resistem um complexo arqueológico, biodiversidade e reservas hídricas localizados a mais ou menos 50km de Belo Horizonte, território que desde 2010 compõe a unidade de conservação: a Estação Ecológica Aredes. Os frutos de um esforço coletivo, envolvendo diversas partes da sociedade, fazem diariamente dessa unidade de conservação um dos principais exemplos de recuperação ambiental e de reconversão de território: métodos científicos centralizados na preservação e recuperação ambiental e patrimonial daquele território, na concepção científica da palavra cuidado. Focada na proteção da biodiversidade, recursos hídricos, valorização e revitalização do acervo cultural, além do desenvolvimento de pesquisas e estudos. Este é o cartão postal da Estação Ecológica Aredes.
O evento desta quinta (10/08) foi proposto na Assembleia pela deputada Bella Gonçalves (PSOL), por meio da Comissão de Meio Ambiente da Casa Legislativa. Estavam presentes na visita técnica: representantes de entidades, movimentos sociais e culturais, a comunidade (principalmente a de São Gonçalo do Bação), pesquisadores que há muitos anos atuam em Aredes, com publicações sobre o tema das áreas de arqueologia, arquitetura, história e geologia; ativistas pela preservação do meio ambiente, estudantes, e sim, tivemos apresentações do Grupo de Teatro de São Gonçalo do Bação, e uma intervenção cultural emocionante de Carlos Carmo, morador de Itabirito e defensor de Aredes. Os representantes da mineradora e sua assessoria técnica contratada também foram na visita técnica – os sócios da Minar e equipe de pessoas compromissadas com os interesses da empresa. Todos ali, pisando naquele solo carregado de riquezas e de histórias. Além da peça de teatro, que ficou um espetáculo, se evidenciaram todos os buracos e inconsistências técnicas e jurídicas do projeto de lei PL 387 de 2023, que propõe a retirada de um pedaço fundamental da área de preservação daquele local. Uma violência sem precedentes apoiadas por um grupo de pessoas que reproduziram comportamentos anticientíficos e negacionistas. Negavam o óbvio para defender o que era inócuo e lucrativo para os donos da mineradora Minar. Receberam sábias informações sobre a vida e a história daquele local e foram profissionais o suficiente para recusá-las. Tão profissionais que defenderam o que a empresa quer, enfrentando com ideias superficiais a própria Natureza e a sua ciência. O que o empreendimento propôs foram ilusões envoltas em “pacotes transparentes”.
Deu pra enxergar tudo. A história recente de Aredes, guiada sobre sua unidade de conservação. A crescente violência de atividades minerárias no entorno da região. Os fortíssimos (muito fortes) indícios de que a mineradora Minar teve atuação ilegal num passado recente em Aredes, com barragem irregular e tudo mais. Ficou evidente a prática do empresário da mineração em fraccionar o projeto para buscar minerar no local. Práticas que devem ser combatidas e denunciadas pelas organizações que lutam pela preservação socioambiental.
Um fato que chamou a atenção. A deputada Bella Gonçalves citou, durante a visita técnica, que um servidor do IEF (Instituto Estadual de Florestas), com profundos conhecimentos do território de Aredes, foi oficialmente convidado pela Comissão de Meio Ambiente da ALMG. Mas fomos informados que o servidor foi designado a outras funções, nesse mesmo dia e horário, momento fulcral e tão importante para esclarecimentos temáticos sobre Aredes. Quem esteve presente foi Henri Collet. O Diretor contratado do IEF, que participou do começo da visita técnica, mas bem no estilo à francesa, deixou o local, sem dar contribuições a respeito da importância do território durante a visita técnica. Henri Collet também gerencia outras unidades de conservação, que possuem, coincidentemente, conflitos permanentes com a atividade de mineração.
DIMENSÕES DE LUTAS PELA PRESERVAÇÃO DE AREDES
Alguns principais argumentos envolvendo as dimensões de lutas pela preservação de Aredes, consistem aos âmbitos hídricos, ambientais e ancestral (história, cultura, paisagem, patrimônio). Uma informação muito importante: todos esses argumentos são baseados em estudos científicos. São conhecimentos baseados em comprovação técnica. Ideias que se transformam em sólidos argumentos para expurgar o mal elaborado projeto de Lei em tela. Em breve pronunciamento, a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) afirmou: “Nós verificamos que é impossível dar continuidade à tramitação do projeto de lei, sem que sejam apresentados estudos que demonstram os possíveis impactos de uma atividade minerária nesta região”. Ao final da visita técnica, a deputada concluiu a defesa pelo arquivamento do projeto de lei PL 387/23.
PERSPECTIVAS DE LUTAS
E quais são as perspectivas depois da visita? Com certeza, a constante luta pela preservação. Argumentos não faltam para que o projeto de lei seja barrado, e a mineradora Minar seja retirada do território. Para que isso aconteça, é necessário que haja uma confluência de forças coletivas, centralizando as mais diversas formas de ações de defesa de todo o Meio Ambiente Integrado, contra os infames interesses dos empresários da mineração. Por entre ruínas, plantas e árvores, as vidas nas serras gritam contra o lucro.
O município de Itabirito e especificamente a região de Aredes já estão exaustos de tantas crateras de mineração por todos os lados e uma procissão de carretas de mineração, verdadeiros tanques de guerra, transportando as entranhas das montanhas de Minas Gerais. Nas duas últimas legislaturas, Projetos de Lei semelhantes ao PL 387/23 foram arquivados, porque ficou evidente que não se pode minerar dentro da Estação Ecológica de Aredes. Portanto, inadmissível alterar os limites da Estação Ecológica de Aredes para que a mineradora Minar possa sacrificar no altar do ídolo mercado um sítio histórico e arqueológico imprescindível para Itabirito, Minas Gerais e o Brasil.
Neste dia de quinta-feira, estou desconfiado que Drummond também visitou Aredes.