Comunidade de Aranha, em Brumadinho, MG, atingida pela Vale S/A, denuncia a continuidade do brutal crime!
No dia 27 de setembro de 2022, a comunidade de Aranha, no município de Brumadinho, MG, reunida na sede da Associação Comunitária, reuniu-se com o Grupo EPA para participar do estudo de risco à saúde em função do crime da mineradora Vale S/A em Brumadinho, MG.
As pessoas fizeram diversas críticas à forma como o grupo EPA (que já trabalhou diretamente para a Vale/Samarco no crime do Rio Doce) está fazendo o estudo. Uma das críticas da comunidade é não poder participar das fases importantes do estudo, como por exemplo, a definição das áreas alvo e os formatos das reuniões. Simplesmente a comunidade é chamada para ouvir informações, de forma fragmentada, sem poder acompanhar o processo. Aumentou a insatisfação quando a equipe do Grupo EPA disse que a próxima reunião acontecerá em abril de 2023. Ou seja, eles vão coletar informações, “processar”, “formatar” e devolver os resultados.
Também gerou muitas críticas a criação das “áreas alvo”. O Grupo EPA afirma seguir a metodologia do Ministério da Saúde (MS), mas nas premissas do MS nem mesmo consta a palavra “áreas alvo”. A metodologia usada irá definir os resultados, que poderão ser mais interessantes para a mineradora Vale do que para os atingidos. Isso gerou muita apreensão e preocupação.
Outra denúncia, expressas nos cartazes, é sobre a contaminação das crianças da Comunidade de Aranha. Depois do resultado divulgado no início de 2022, pela FIOCRUZ e UFRJ, sobre contaminação do sangue das crianças com metais pesados, a comunidade reivindica medidas urgentes que não são atendidas, como água mineral para a Comunidade e para a Escola Municipal – que recebe crianças de várias outras Comunidades. Até hoje não foi feito nada, nem mesmo o pedido de reunião com os compromitentes do acordo com a Vale S/A (MPE, MPF, DPE, Governo de Minas) para debater esta injustiça.
Uma lista de danos foi apontada pela Comunidade de Aranha: 1) contaminação das crianças por metais pesados, do ar, da água, sofrimento social, autoextermínio e depressão; 2) aumento de trânsito, rachaduras nas estruturas da igreja, poeira, aumento do número de pessoas estranhas na comunidade; 3) crianças com diarreia, vômitos, doenças de pele, mal estar e muitos outros problemas.
Também denunciaram a violência da mineradora Vale na “compra” das fazendas e sítios da região. Um dos casos, que mais assustou as pessoas da Comunidade de Aranha: a Vale S/A comprou a fazenda Capela Velha, um local com acervo arqueológico e histórico, com moinhos centenários e local de catas de minério do tempo colonial, além do fato que o córrego no local da área comprada era usado para lazer. A Vale comprou a propriedade e em menos de um mês destruiu toda a estrutura da fazenda e sumiu com todos os escombros. Para isso alargou uma estrada local e trouxe máquinas gigantescas. As pessoas denunciaram que a compra das fazendas e sítios pela Vale S/A em toda a região traz insegurança do futuro, destrói as relações entre as Comunidades e representa uma forma violenta da Vale mostrar um gigante e podre poder econômico que vai além do “controle” e dos acordos com os órgãos públicos – segundo a Comissão Pastoral da Terra a mineradora Vale possui mais de 120 propriedades registradas em Brumadinho, MG.
A reunião foi muito tensa, cansativa e durou mais de 3 horas. A Comunidade de Aranha segue na luta, enfrentando o drama vivido pelas famílias e a angustia de ver seus direitos violados.
No dia 10 de maio de 2022 a Comunidade de Aranha enviou para os órgãos públicos a Carta de Aranha, na qual pedia reunião e medidas urgentes frente à contaminação das crianças com metais pesados, conforme exames de sangue feitos pela FIO CRUZ e UFRJ. Em agosto último tiveram a resposta do poder público e nesta semana a Comunidade de Aranha respondeu o ofício – veja, abaixo, em anexo a resposta da Comunidade de Aranha.
Brumadinho, MG, 30 de setembro de 2022