Deus também é cigano. Dia 24 de maio, Dia Nacional dos Ciganos. Por Gilvander Luís Moreira[1]
Que beleza que o CEDEFES e a professora Dra. Alenice Baeta estão comprometidos com a luta justa, legítima e necessária das Comunidades Ciganas em Minas Gerais. Há alguns anos, entrevistei na TVC/BH Bernadete Lage, uma lutadora em defesa da causa dos ciganos em Minas Gerais, e também o Carlos, cigano da comunidade cigana do bairro São Gabriel, em Belo Horizonte, MG. Inesquecível ver e ouvir a paixão e o encantamento com o qual Bernadete e Carlos falavam das belezas da cultura cigana. Ao ouvir Carlos, um cigano, e Bernadete, alguém que se apaixonou pela causa das Comunidades Ciganas, ouvi dentro de mim uma voz que dizia: “Deus também é cigano!” Em Minas Gerais, estima-se que existam mais de 100 mil ciganos, povo milenar oprimido e injustiçado, povo que carrega e cultiva uma cultura linda. Logo, reforço aqui a reivindicação para que a prefeitura de Ibirité arrume terreno com condições adequadas para acolher a Comunidade Cigana do Acampamento São Pedro. Inadmissível violentar a dignidade humana das pessoas ciganas, negando-lhes a terra que lhes é de direito. E pior, negar terra para os ciganos para doar terreno para empresas que irão acumular capital é um crime que clama aos céus. Em breve, visitarei a Comunidade Cigana de São Pedro em Ibirité, MG. Espero não ter que fazer uma reportagem em vídeo e escrever texto para denunciar o prefeito e todo o poder público municipal de Ibirité. Em nome do Dia Internacional dos Ciganos, dia 24 de maio, pedimos: Prefeito de Ibirité, atenda às justas e legítimas reivindicações da Comunidade Cigana que está aí em Ibirité, e se torne um bom exemplo para todas os municípios de MG, onde estão 100 mil ciganos, nossos irmãos que cultivam uma cultura milenar linda, e esperam de quem não é cigano respeito pelo seu jeito de ser e agir. A cultura cigana nos humaniza.
Abraço terno na luta em defesa dos injustiçados.
Frei Gilvander Moreira.
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O que comemorar no Dia Nacional do Cigano? Resistência e Luta na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Por Alenice Baeta
Apesar do dia Nacional do Cigano, 24 de Maio, estar se aproximando, boa parte de suas lideranças não conseguem pensar em organizar celebrações como gostariam, pois se encontram mobilizadas temendo ordem de despejo em muitos de seus acampamentos e ranchos em diversas localidades do estado.
Lamentavelmente este é o caso do Acampamento São Pedro, situado no município de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte-RMBH, Minas Gerais. As lideranças ciganas Valdinalva Caldas e Itamar Soares, contam que têm tentado, sem sucesso, chegar a um acordo com a Prefeitura de Ibirité há meses. Segundo elas, já houve encontros com o Prefeito Sr. William Parreiras e reuniões com o Procurador Municipal Dr. Wagner Miguel, atual Secretário de Governo, Sr. Reinaldo Oliveira e demais representantes do poder público municipal, que teriam prometido a definição de uma área com infraestrutura adequada – água limpa, banheiro e energia elétrica, pois há crianças, jovens e idosos no acampamento.
Atualmente o acampamento está em um terreno público considerado oficialmente como “área verde”, mas estranhamente, quando as primeiras famílias ciganas ali chegaram, já encontram um terreno com lixo e entulho. O que mais chama a atenção é que a Prefeitura parece pretender doar justo esta “área verde” para duas empresas e por isto quer que as famílias ciganas desocupem este local, todavia, não indicou um novo terreno adequado para elas se instalarem.
No dia 21 de Maio houve uma audiência entre as lideranças supracitadas, que foram acompanhadas por membro da ONG CEDEFES-Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, e representantes do município, que assustadoramente não apresentaram nenhuma proposição ou solução oficial para as lideranças, contradizendo assim todas as tratativas, negociações e promessas feitas até então. Não houve acordo algum nessa audiência, exigindo que as lideranças tivessem que solicitar no Fórum de Ibirité a nomeação de um advogado que as defenda em curtíssimo prazo. Agora, o grande temor das famílias é uma futura ordem de despejo, o que seria um grande desrespeito à dignidade humana deste milenar povo tradicional itinerante e suas associações.
O que leva um poder público e seus representantes a preferirem doar esse terreno a empresas particulares, sem nenhuma alternativa ou proposta de usufruto de outra área para o acampamento cigano aqui focalizado, ferindo frontalmente os direitos constituídos em nível internacional e nacional de um grupo tradicional?
Bom lembrar às autoridades municipais e seu secretariado, em especial os que atuam no âmbito do governo, cultura, desenvolvimento social e meio ambiente, que desde o século XVI há registros de clãs ciganas no Brasil e que esta minoria étnica é considerada uma das mais vulneráveis, de acordo com as agências internacionais e a ONU, sendo que as suas tendas, acampamentos e ranchos configuram-se como lar ou asilo inviolável. Os ciganos continuam sendo vítimas de procedimentos racistas, discriminatórios, xenófobos e intolerantes, por isto, espera-se que o poder público de Ibirité se comprometa, para além de discursos e promessas, em romper de forma prática e eficaz as cruéis barreiras do “Racismo Institucional” buscando soluções exemplares e alternativas comprometidas com a inclusão social, diversidade cultural e a valorização das tradições étnicas e culturais ciganas.
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Destaque: Líderes Ciganos do Acampamento São Pedro no município de Ibirité-RMBH. Foto: A. Baeta – Maio de 2018.
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas.
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