Memória dos Mártires da Igreja, na América Latina, agosto, 2ª parte, 10/08/2018.
Pe. MIGUEL TOMASZEK e Pe. ZBIGNIEW STRZALKOWSKI
Mártires da Paz e da Justiça
PERU * 09/08/1991
Miguel Tomaszek nasceu em 23 de setembro de 1960, em Lekawica (Polónia). Depois da escola primária em sua cidade natal, cursou o ensino médio no Seminário Menor dos Franciscanos Conventuais. Ele fez a sua profissão religiosa em 01 de setembro de 1981 em Legnica. Iniciou seus estudos de Filosofia e Teologia de Cracóvia. Foi ordenado sacerdote em 23 de maio de 1987 exerce a sua primeira missão sacerdotal Pierigle, o convento franciscano de Cracóvia.
Zbigniew Strzalkowski nasceu em 03 de julho de 1958 em Tarnow. Fez seu curso primário e seus estudos técnicos em Tarnow. Ele ingressou na ordem franciscana Conventual em 1979 e estudou filosofia e teologia em 1980, foi um dos iniciadores do movimento ambientalista no seminário de Cracóvia. Foi ordenado sacerdote em 07 de junho de 1986 sua primeira missão pastoral estava no seminário Menor Legnica .
Em missão vão paraa o Peru para abrir a primeira comunidade franciscana, foram trabalhar em Moro e Pariacoto. Os dois missionários, juntamente com o Padre Yarek foram os fundadores do Convento Pariacoto a 30 de agosto de 1989, com a missão pastoral em quatro comunidades rurais na Cordilheira Negra: Pariacoto, Yaután, Cochabamba e grandes Pampas.
MARTÍRIO
Na sexta-feira 9 de Agosto de 1991, na casa religiosa Pariacoto padre Zbigniew estava sozinho com os três candidatos. O superior estava fora, e Padre Miguel estava voltando com a caminhonete de missão, acompanhado de um grupo de catequistas de Huaraz, onde participaram de uma atividade formativa.
Um grupo de homens armados, com os rostos cobertos, invadiram a Casa Paroquial. Padre Michael recebeu dois tiros no pescoço e padre Zbigniew, um tiro perto da orelha e um na parte central da coluna vertebral. Junto com os corpos encontraram duas notas em pedaço de papelão escrito nervosamente pelos assassinos: “bem morrer, que falam de paz e lambendo o imperialismo.”
ENTERRO
O povo participou do enterro como uma demostração do valor que os padres tinham para eles. Muito sofrido o povo, expressou bravamente e abertamente o protesto contra a morta cruel e brutal dos padres. Várias amostras desses sentimentos acompanhou os mártires nos eventos seguindo, o heroico sacrifício e entrega deles em favor do povo.
Nos muitos cartazes que acompanhavam a procissão fúnebre, se viu um que dizia: “Os padres não morreram”.
Os jovens sacerdotes Michal Tomaszek e Zbigniew Strzalkowski, 31 e 33, poderiam estar em Czestochowa em agosto de 1991 para o Dia Mundial da Juventude. E de fato eles estavam, pois foram pessoalmente nomeados por João Paulo II no dia 13 de: “Há novos mártires no Peru”proclamou o Papa.
PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO
Depois de quatro anos do martírio, em 05 de junho de 1995, o bispo local (Chimbote), Dom Luis Armando Bambarén Gastelumendi, SJ, e com o apoio da Conferência Episcopal Peruana, da Congregação vaticana para as Causas dos Santos autorizou a abertura do processo de beatificação de mártires da fé.
Esteve em Cracóvia, a fim de encontrar provas e documentação sobre a infância, formação e os primeiros anos desses servos de Deus poloneses. atualmente está dirigindo o diocesano ao fim, diz a assessoria de comunicação da Ordem dos Frades Menores Conventuais.
ORAÇÃO PELA BEATIFICAÇÃO
Señor:
Tú que ungiste con el don del Sacerdocio
a tus hijos
Miguel, Zbigniew y Sandro,
los enviaste como mensajeros
de la Buena Nueva
y los coronaste con la palma del Martirio
glorifícalos también
con la corona de los Santos.
Por su sangre derramada por ti:
danos fidelidad en la fe,
guarda nuestras vidas
y concédenos el don de la paz.
A las víctimas inocentes de la violencia
recíbelas en tu Reino
y concédeles el premio eterno.
Amén.
PAPA FRANCISCO APROVOU A BEATIFICAÇÃO
Papa Francisco aprova beatificação de três padres mortos no Peru Zbigniew Strzalkowski, Michel Tomaszek e Alessandro Dordi.
A Congregação para as Causas dos Santos emitiu hoje decretos de beatificação Padre Miguel Tomaszek e Pai Zbigniew Strzalkowski.
Papa Francisco aprovou no dia 03 de fevereiro de 2015 o decreto de beatificação do padre italiano Alessandro Dordi e polaco Zbigniew Strzalkowski e Michel Tomaszek, morto em 1991, no Peru pela bando maoísta Sendero Luminoso.
A Santa Sé disse em uma nota que Bergoglio autorizou a Congregação para as Causas dos Santos a promulgação de decretos de beatificação depois recebeu hoje em audiência o prefeito dele, Angelo Amato.
Os três novos mártires foram beatificados no dia 5 de dezembro de 2015, no Estádio Centenário de Chimbote.
Em agosto de 1991, um grupo de “senderistas” matou a tiro os dois sacerdotes poloneses mortos Zbigniew Strzalkowski e Michel Tomaszek, na cidade de Pariacoto.
Duas semanas mais tarde, esta organização criminosa matou Alessandro Dordi, a tiro quando ele estava voltando para casa depois de celebrar a missa na cidade de Santa.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
MASSACRE DE CORUMBIARA
Mártires da luta pela Terra
CORUMBIARA, RO * 09/08/1995
Na madrugada do dia 09 de Agosto o acampamento da Santa Elina foi cercado por todos os lados e começou o que foi o massacre de Corumbiara, onde foram assassinados 10 trabalhadores sem-terra..
Os posseiros foram pegos de surpresa, pois era noite escura e eles estavam desmobilizados.
Os posseiros foram acordados com bombas de gás lacrimogênio que a todos sufocavam, tiroteio por longas horas com armas muito pesadas, mulheres foram usadas como escudo humano pelos policiais e por jagunços.
Segundo relatos um grande número de jagunços, alguns vestidos como policiais entraram infiltrados no meio das tropas e muitos homens estavam encapuzados. O acampamento foi totalmente destruído e depois incendiado. Não sobrou nada do que os camponeses haviam levado para começar o que seria uma vida nova. Tudo se transformou em pesadelo.
O que aconteceu naquela noite e naquela manhã, não foi testemunhado pela imprensa, mas as marcas estão presentes naqueles corpos e naquelas almas que sofreram torturas indescritíveis e os que sobreviveram puderam contar o que aconteceu ali, embora suas vozes tenham sido sufocadas, desqualificadas, ou simplesmente ignoradas durante as apurações processuais e durante o júri.
Os homens que não morreram ou não conseguiram fugir pela mata foram presos e obrigados a se deitarem no chão com o rosto na lama e policiais e jagunços pisavam sobre eles e os espancavam com chutes em todas as partes do corpo e davam pauladas em qualquer um que ousasse levantar a cabeça.
Depois foram amarrados com cordas e arrastados até o QG da PM, no campo de futebol do PA Adriana.
Os homens ficaram por longas horas, sem água, sem comida, apanhando e sofrendo todo tipo de humilhações.
As mulheres e as crianças também ficaram presas em cima de caminhões por longas horas sob um sol escaldante, passando fome e sede. Os posseiros foram presos, mortos e torturados e o acampamento foi completamente destruído.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
DANIEL JOSÉ ESPICIA MADERA
Líder Campesino e Mártir
COLÔMBIA * 09/08/1989
Daniel José Espitia Madera foi assassinado a tiros no dia 09 de agosto de 1989 por homens armados que chegaram cerca das 6 da tarde em seu domicílio no distrito de Cantaclaro, Cidade de Monteria, capital do departamento de Córdoba.
Foi assassinado ao abrir a porta em frente aos setes filhos. Ele acabara de chegar de uma reunião de dirigentes sindicais em Córdoba.
Daniel era um membro ativo na Associação Nacional dos Camponeses (ANUC) onde exercia a função de tesoureiro e fazia parte de uma delegação Internacional da ANUC que viajou por vários países da Europa com o objetivo de denunciar a violação dos direitos humanos na Colômbia. No dia de sua morte, devia viajar para Bogotá para a reunião do Comitê Executivo Nacional da ANUC.
Daniel Espitia desempenhou um papel importante na denuncia das violações de direitos humanos na Colômbia, em particular pela denuncia por ele feito da matança dos camponeses ocorrido em Córdoba em 1988.
Segundo os relatórios por ele apresentados, entre os mortos estava seu irmão José Erazo Espitia, e posteriormente seu pai Antonio Espitia foi assassinado dia 21 de junho de 1989 na região de El Tomate por pistoleiros desconhecidos.
Pouco antes de sua morte, Daniel participou do Congresso Nacional dos atingidos pela Guerra Suja, onde esteve como representante dos camponeses de Córdoba. Quando regressou do congresso no início de agosto de 1989 começou a receber ameaças de morte por escrito, presumidamente em consequência de suas denuncias das violações dos direitos humanos.
Daniel segue sendo exemplo do compromisso com as causas da vida para seu povo colombiano.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
JESUS ALBERTO PÁEZ VARGAS
Sequestrado e desaparecido
PERU * 10/08/1977
Jesus Alberto Páez, nasceu em 05 de dezembro de 1947 em El Agustino – Lima, Peru, filho de Jesus e Edulia Vargas Páez; desde tenra idade se viu obrigado a trabalhar como entregador de jornal, e várias outras atividades que lhe permitia ganhar algum dinheiro para ajudar a sustentar a casa e os estudos.
Aluno de destaque, terminou os estudos técnico secundário, interessando-se em mecânica. Ele também se destacou como um líder estudantil e num quadro de avisos da seção, sempre continha escritos de sua inspiração.
Completou o ensino secundário e logo começou a trabalhar como operário na fábrica têxtil Bellota, em seguida, trabalha na construção civil; em 1970, na Fábrica Têxtil Nuevo Mundo, trabalhando como mecânico de manutenção, entrou no sindicato e se destacou como um ativista, também na PJ Gambeta Baja e no Comitê de Coordenação e Unificação Sindical Clasista, CCUSC.
Jesus Alberto, homem humilde, filho do povo e exemplar militante comunista, foi sequestrado e desaparecido há 40 anos, nos tempos da ditadura militar, em 10 de agosto de 1977, vinte dias após a contundente greve nacional 19 de julho.
Casado com Eulalia Escalante, com quem teve quatro filhos: Jose Enrique, Irma Cecilia, Graciela Lupe e Jesus Alberto, nascido no ano do seu sequestro e desaparecimento.
Jacinto Irala disse: “Jesus Alberto Páez (Mauritius) se destacou em atividades públicas e estava sempre focado nos principais problemas a ser resolvido, quando se dirigia as bases. Ele era um camarada que irradiava autoridade e respeito. Por suas responsabilidades de trabalho pessoais, profissionais, política ele não perdeu tempo, era digno de respeito a forma como organizava sua agenda, ganhando um espaço cada vez maior, sem recorrer a questões secundárias”.
As lutas dos comunistas é sempre marcada pela entrega e sacrifício consciente, lutas que buscam incansavelmente o bem-estar, igualdade e amor pela humanidade. Nesta trajetória, teremos militantes comunistas que à custa de sua própria felicidade e comodidade pessoal e familiar se entregaram totalmente pelas causas que acreditaram, compromisso este que custou a própria vida. Deles podemos e devemos dizer que são Mártires do Povo.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
FREI TITO DE ALENCAR LIMA
Mártir da Tortura
FRANÇA * 10/08/1974
Tito de Alencar Lima, religioso dominicano, perseguido e preso por seu compromisso com o povo oprimido, viveu as mais bárbaras torturas, físicas e psicológicas, sobretudo na Operação Bandeirantes – centro de torturas do exército, em São Paulo.
É um dos casos mais dramáticos da perseguição à Igreja e ao povo nesses anos das ditaduras militares de Nossa América. Tito interiorizou toda as acusações, as solidões todas, tentou evitar de todo jeito comprometer seus companheiros, carregou como uma sombra de pecado a imagem do delegado torturador Fleury, no exílio do Chile e da França e, finalmente, num gesto de expiação extrema se enforcou numa árvore, aos 28 anos, na capina francesa.
Mártir da tortura é considerado mundialmente, vítima dos poderes de repressão. Num poema histórico, que escreveu na França, reproduz com sua agonia a agonia de Jesus: “Pediste a teu Pai tua paz, o sentido de tua paixão e de teu amor. / Meu Pai, meu país: por que me abandonaste?”.
“É preferível morrer do que perder a vida”.
“… Quiseram deixar-me dependurado toda a noite no pau-de-arara. Mas o capitão Albernaz objetou: “Não é preciso, vamos ficar com ele aqui mais dias. Se não falar será quebrado por dentro, pois sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia…
Na cela, eu não conseguia dormir. A dor crescia a cada momento. Sentia a cabeça dez vezes maior que o corpo. Angustiava-me a possibilidade de os outros religiosos sofrerem o mesmo. Era preciso pôr um fim àquilo. Sentia que não iria aguentar mais o sofrimento prolongado. Só havia uma solução: matar-me. Na cela cheia de lixo encontrei uma lata vazia. Comecei a amolar sua ponta no cimento…
Tomei a gilete, enfiei-a com força na dobra interna do cotovelo, no braço esquerdo. O corte fundo atingiu a artéria. O jato de sangue manchou o chão da cela. Aproximei-me da privada, apertei o braço para que o sangue jorrasse mais depressa.
Revestidos de paramentos litúrgicos, os policiais me fizeram abrir a boca “para receber a hóstia sagrada”. Introduziram um fio elétrico. Fiquei com a boca toda inchada, sem poder falar direito.
No sábado, teve início a tortura psicológica. “A situação agora vai piorar para você, que é um padre suicida e terrorista”, diziam eles. “A Igreja vai expulsá-lo”. Não deixavam que eu repousasse. Falavam o tempo todo, jogavam, contavam-me estranhas histórias. Percebi logo que, a fim de fugirem à responsabilidade de meu ato e o justificarem, queriam que eu enlouquecesse”.
Quando Secar o Rio de Minha Infância (No exílio, na França, sempre subsistindo à sequelas da tortura, Frei Tito escreveu esta poesia)
Quando secar o rio de minha infância
secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem
Minha alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes
– lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva
e nos dias silenciosos farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura de minha mais profunda angústia.
Nos dias primaveris, colherei flores
para meu jardim da saudade.
Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.
Terra de Santa Cruz – Adélia Prado
Poetisa e escritora. O poema em homenagem a Frei Tito está no livro Terra de Santa Cruz, de 1986, publicado pela Editora Guanabara.
Nas minhas bodas de ouro, esganada como os netos,
vou comer os doces.
Não terei a serenidade dos retratos
de mulheres que pouco falaram ou comeram.
Porque o frade se matou
no pequeno bosque fora de seu convento.
De outras vezes já disse: não haverá consolo. E houve:
música, poema, passeatas.
O amor tem ritmos que não são de tristeza:
forma de ondas, ímpeto, água corrente.
E agora? Que digo ao homem, ao trem, ao menino que me espera,
à jabuticabeira em flores, temporã?
Contemplar o impossível enlouquece.
Sou uma tênia no epigastro de Deus:
E agora? E agora? E agora?
Onde estavam o guardião, o ecônomo, o porteiro,
a fraternidade onde estava quando saíste,
o desgraçado moço da minha pátria,
ao encontro desta árvore?
Meu inimigo sou eu. Os torturadores todos enlouquecem ao fim,
comem excrementos, odeiam seus próprios gestos obscenos,
os regimes iníquos apodrecem.
Quando andavas em círculos, a alma dividida,
o que fazia, santa e pecadora, a nossa Mãe Igreja?
Promovia tômbolas, é certo, benzia edifícios novos,
mas também te gerava, quem ousará negar, a ti
e a outros santos que deixam as bíblias marcadas:
“Na verdade carregamos em nós mesmos nossa sentença de morte”.
“Amai vossos inimigos”.
O que disse: “Quem crer viverá para sempre”, este também
balouçou do madeiro como fruto de escárnio.
Nada, nada que é humano é grandioso.
Me interrompe da porta a mocinha boçal. Quer mudas de trepadeira.
Meus cabelos levantam. Como um torturador eu piso e arranco
a muda, os olhos, as entranhas da intrusa
e não sendo melhor que Jó choro meus desatinos.
Sempre há quem pergunte a Judas qual a melhor árvore:
os loucos lúcidos, os santos loucos,
aqueles a quem mais foi dado, os quase sublimes.
Minha maior grandeza é perguntar: haverá consolo?
Num dedal cabem minha fé, minha vida e
meu medo maior que é viajar de ônibus.
A tentação me tenta e eu fico quase alegre.
É bom pedir socorro ao Senhor Deus dos Exércitos,
ao nosso Deus que é uma galinha grande.
Nos põe debaixo da asa e nos esquenta.
Antes, nos deixa desvalidos na chuva,
pra que aprendamos a ter confiança n’Ele
e não em nós.
Texto elaborado por Tonny da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
Fonte: http://irmandadedosmartires.blogspot.com/2018/08/galeria-dos-martires