Memória dos Mártires da Igreja, na América Latina, mês de agosto
Padre ALÍRIO NAPOLEÓN MACÍAS
Mártir El Salvador
EL SALVADOR * 04/08/1979
Em 4 de agosto de 1979, como um bom sacerdote estava limpando a Igreja; se deu conta que havia pessoas do lado de fora da Igreja, e de acordo com os depoimentos das testemunhas eram policiais. Eles dispararam as armas contra o padre Alírio, que caiu crivado de bala entre a sacristia e o altar. Sua querida mãe, com a angústia dessa situação, correu e disse que ela ainda o viu abrir os olhos. Morreu logo em seguida.
“Padre Alírio foi um homem dedicado à causa do seu povo e também um homem de oração, como o Bom Pastor realizou visitas as aldeias e vilas em toda a paróquia”, lembra Esperanza Carrillo. Realizava retiros, onde não apenas temas religiosos foram abordados, mas também se discutia sobre as necessidades das comunidades que viviam em extrema pobreza. Como forma de amenizar a pobreza nas comunidades, criou projetos de saúde, agricultura, alfabetização, água e luz.
O assassinato do padre Alírio, como tantos outros cometidos antes e durante a ditadura, nunca foi cuidadosamente investigados, e a impunidade continua até hoje.
37 anos após seu martírio a sua presença continua viva nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), não só como uma simples lembrança, mas como uma presença vivificante nas comunidades, e o povo procura reencarnar de alguma forma o testemunho profético deixado pelo Padre Alírio Napoleão Macias.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
Dom ENRIQUE ANGELELLI
Profeta e Bispo dos Pobres
ARGENTINA * 04/08/1976
Memória dos 42 anos de seu martírio.
Dom Enrique Angelelli, um autêntico pastor, segundo o Evangelho dos Pobres, em La Rioja Argentina, “Terra Adentro”.
Solidário com seu povo, foi perseguido, intimado e viu martirizados seus colaboradores mais íntimos.
Sentiu a solidão episcopal. Mas continuou fiel. “É preciso seguir andando”, repetia.
“Sinto-me feliz por viver nesta época em que vivo. Parece-me importante viver nesta época de mudanças profundas, aceleradas e universais, porque nos foi dada a possibilidade de construir algo novo. Hoje é preciso ter um ouvido para o Evangelho e outro para o Povo”.
“Não precisa ter medo de se meter no barro”.
Odiado pelos latifundiários e pela ditadura militar, caiu no meio do caminho, com os braços abertos em cruz, num acidente fingido. A opinião pública nacional e internacional e até a declaração de alguns carrascos desvendaram a verdade. Agora, se completando os quarenta anos de seu martírio, o testemunho deste bispo, profeta e amigo do povo, cresce como uma das mais autênticas glórias da Igreja Latino-americana. O papa Paulo VI tinha por ele particular estima e o apoiou nas horas difíceis.
O processo penal iniciado pelo tribunal de La Roja tinha estabelecido que a morte de Angelelli não foi causada por um acidente de carro – versão defendida desde o início também por alguns setores da Igreja –, mas foi um “homicídio premeditado executado no marco do terrorismo de Estado”, no tempo da ditadura militar argentina.
Em 2015, foi aberta a fase diocesana da causa de beatificação de Dom Angelelli.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
MASSACRE DE CARACOLES
BOLÍVIA * 03/08/1980
Facções do exército boliviano de Viacha, Tarapacá e Ouro atacaram o centro mineiro de Caracoles com morteiros, tanques e aviões de guerra, depois do golpe de estado de 19 de julho de 1980, para esmagar toda a resistência. Os mineiros se defenderam com pedras, paus e algumas cargas de dinamite.
Pela tarde, a maioria dos mineiros tinha sido exterminados ao tentarem fugir para os matos ou ao se esconderem em outro povoado. Foram atravessados a baionetas e os feridos degolados. Puseram uma dinamite na boca de um mineiro para ele voar pelos ares em pedaços.
As mulheres e mesmo as meninas foram violentadas. Gente muito jovem, quase criança, morreu em consequência de torturas.
Os soldados saquearam as casas e os pertences levaram consigo. Ao amanhecer do dia seguinte, os feridos foram carregados em três caminhões e levados para La Paz. Depois de três dias, as mulheres sobreviventes tinham permissão para procurar os mortos. Encontraram apenas roupas e calçados encharcados de sangue. Os mortos haviam desaparecidos.
Alguns, enterrados em vala comum. Mas não se permitiu aproximar-se ninguém que pretendesse identificar os mortos.
Foram 500 os mineiros mortos e desaparecidos.
Texto retirado do livro: Sangue Pelo Povo.
Padre CARLOS PÉREZ ALONSO
Mártir da Misericórdia
GUATEMALA * 02/08/1981
Memória dos 37 anos do seu martírio.
Carlos Pérez Alonso, sacerdote jesuíta espanhol, com muitos anos de trabalho pastoral na Guatemala. Apóstolo dos enfermos, dos presos, dos soldados e estudantes e mártir da misericórdia e da justiça. Sequestrado e desaparecido.
Carlos, apesar de sua pouca saúde, foi um incansável capelão de hospitais, cárceres, colégios e movimentos seculares. E em todos esses lugares foi extremamente querido, consultado, ouvido.
Em Carlos, “a misericórdia se fez carne”, como disse um companheiro seu, sacerdote. “E por que precisamente ele ‘desaparecido’…?” pergunta o mesmo sacerdote. E responde:“Primeiro, porque esse gênero de sofrimento é uma graça extraordinária e para recebê-lo é preciso estar preparado”. “Segundo, porque a verdadeira misericórdia, a amizade e o serviço desinteressado, o desejo de liberdade e justiça, etc, são algo ‘subversivo’, que deve ser eliminado. A partir daí começamos a compreender o porquê..”.
O que causou seu desaparecimento, segundo testemunhas, foi que ele estava como capelão visitando seu colega jesuíta, Luis Pellecer, que estava sendo submetido a um longo processo de lavagem cerebral, para que depois dissesse publicamente em entrevistas à televisão, jornais internacionais, etc., acusando a Igreja, seus colegas sacerdotes como subversivos.
Luis, era um sacerdote muito comprometido na linha da justiça e muito profético. Por seu compromisso e as causas que assumiu em defesa da vida, foi sequestrado pelos militares que o quisera colocar contra o povo pobre e a Igreja.
Pe. Carlos que o viu a situação em que se encontrava seu colega Luis e pretendendo ajuda-lo, não teve tempo de fazer a denuncia pública, ao reclamar aos mesmos militares, fizeram-no desaparecer. Foi sequestrado por dois desconhecidos no dia 02 de agosto de 1981 ao sair da Missa que foi rezar próximo ao Hospital Militar.
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.
ARLEN SIU
Mártir da revolução nicaraguense
NICARÁGUA * 01/08/1975
Memória dos 43 anos do seu martírio.
Arlen Siu, estudante universitária nicaraguense de 18 anos e militante do Movimento Cristão, incorporou-se à Frente Santinista, sendo assassinada pela Guarda Nacional nas imediações de El Sauce, com dois companheiros universitários: Mário Estrada de 21 anos e Jorge Matos de 19 anos.
Como cristã e revolucionária, Arlen participou ativamente das lutas de seu povo, que a conhecia com seu inseparável violão que tocava para acompanhar as canções que compunha.
Alegre, sincera, fraterna e meiga, Arlen era muito querida de todos os que a conheceram, especialmente os mais pobres.
Sendo uma das primeiras mulheres que se incorporaram à Frente Sandinista, quando a repressão da ditadura ameaçava e perseguia os camponeses, Arlen foi um símbolo da mulher que luta pela libertação de seu povo.
María Rural (Arlen Siu)
Por los senderos del campo
Llevas cargando tu pena
Tú pena de amor y de llanto
En tu vientre de arcilla y tierra
Tu tinajita redonda
Que llenas año con año
De la semilla que siembra
El campesino en su pobreza
Hoy quiero cantarte María rural
¡Oh! Madre del campo
Madre sin igual
Hoy quiero cantar
Tus vástagos pobres
Tu despojos triste
Dolor maternal
Desnutrición y pobreza
Es lo que a vos te rodea
Choza de paja en silencio
Solo el rumor de la selva
Tus manos son de cedro
Tus ojos crepúsculos tristes
Tus lágrimas son barro
Que derramas en las sierras
Por esa razón en esta ocasión
Hoy quiero cantar
A tu corazón
Hoy quiero decirte lo que siento
Por tanta pobreza y desolación
Por la praderas y ríos
Va la madre campesina
Sintiendo frío el invierno
Y terrible su destino
Por los senderos del campo
Llevas cargando tu pena
Tú pena de amor y de llanto
En tu vientre de arcilla y tierra
Hoy quiero cantarte María rural
¡Oh! Madre del campo
Madre sin igual
Hoy quiero cantar
Tus vástagos pobres
Tu despojos triste
Dolor maternal
Texto elaborado por Tonny, da Irmandade dos Mártires da Caminhada.