Nota de frei Gilvander: como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus?

Nota de frei Gilvander: como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus?

Foto: Divulgação / Rede virtual

Como se comportar e o que fazer em tempos de coronavírus? Peço licença para lhe dirigir algumas palavras.  Quem fala aqui é frei Gilvander Moreira, frei e padre da Ordem dos Carmelitas. Como agente de pastoral comprometido com a luta em defesa da dignidade humana e por todos os direitos humanos fundamentais, estou gravando este áudio na tarde do dia 18/03/2020. Resolvi gravar este áudio, porque penso e sinto que todas as pessoas e, principalmente as lideranças, têm o dever de contribuir para a superação da noite escura da pandemia do Coronavírus, a COVI 19. Já passei por três pneumonias e sei o que é contrair broncopneumonia e o risco é pior agora, com o coronavírus, ainda sem vacina e sem remédio para curá-lo. Orar faz bem, mas não basta orar. A Bíblia nos apresenta várias situações em que o povo de Deus, conhecendo o perigo que se aproximava, agiu, guiado pela luz divina. Assim foi também com José e Maria: sabendo do Decreto do rei Herodes, que determinava matar toda criança de 2 anos para baixo, bem que poderiam ter ficado no mesmo lugar, mas partiram para o Egito, fugindo da possibilidade de o menino Jesus ser morto. O apóstolo Paulo em sua Primeira Carta aos Coríntios nos orienta dizendo: “sejamos cooperadores de Deus” (1Co 3,9).  

Todo o povo brasileiro precisa levar a sério as orientações de cientistas, médicos e órgãos da área de saúde pública que insistem, nas seguintes recomendações até superarmos a pandemia do coronavírus:

 – O necessário e sensato é mantermos distância de pelo menos 2 metros entre as pessoas.

– Não cumprimentar ninguém pegando na mão, não abraçar e nem beijar.

– Lavar as mãos com frequência, e corretamente, com água e sabão, cuja eficiência é maior, e na impossibilidade de lavar com água e sabão várias vezes ao dia, usar álcool em gel; na ausência do álcool em gel e da água com sabão, pelo menos higienizar as mãos com álcool comum.

– Não levar as mãos ao rosto.

– Manter-se hidratado e alimentar-se bem, para elevar a imunidade e a resistência corporal.

– Ficar em casa. Só sair de casa em caso de extrema necessidade.

– Ao chegar de viagem de qualquer lugar, fique isolado em casa durante sete dias.

– Ao chegar de viagem de lugar epidêmico, fique isolado em casa durante 14 dias.

– Cuidado especial com as pessoas idosas que devem ficar em casa para não se exporem à contaminação pelo coronavírus. Nada de visitas dos netos que estão sem aulas ou de familiares. Idosos devem evitar cuidar de crianças. Nesse tempo, a comunicação com os idosos deve ser feita por telefone, celular ou de forma virtual. Os idosos devem manter a casa arejada.

– Pessoas com câncer, HIV, diabete, tuberculose e outras doenças devem se proteger ainda mais.

– Não participar de reuniões, nem de encontros, nem de seminários, de nenhuma aglomeração de pessoas. Muitas igrejas já suspenderam a celebração de missas e cultos, o que é correto e necessário.

Manter o distanciamento e o isolamento social são posturas necessárias e vitais, porque o remédio para evitar contrair a COVID-19 é interrompermos o contágio comunitário, que acontece em uma progressão maior do que a geométrica: 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256, 512, 1024, 2048, 4096, 8.192, 16.384, 32.768, 65.536, 131.072, 262.144, 424.288, 1.048.576 e assim por diante, em poucos dias e semanas. O jeito para impedirmos uma mortandade de irmãos e irmãs nossos é interrompermos o ciclo do contágio. E quanto antes houver a paralisação completa da circulação de pessoas – com distanciamento e isolamento social -, exceto quem tiver extrema necessidade, menos impacto teremos na atividade econômica do país e mais pessoas serão salvas. É preciso ter consciência de que a suspensão das aulas não significa férias; nada de passeios em shoppings, viagens, lanhouses… As famílias bem que poderiam aproveitar esse tempo em casa para conversar mais uns com os outros, ler bons livros, assistir a bons filmes, brincar em casa, estreitar laços.

No Brasil, com sistema capitalista causando uma imensa desigualdade social, as condições de prevenção e tratamento não são iguais. Se o coronavírus se espalhar muito, para a maioria do povo brasileiro que depende do SUS, se adquirir pneumonia grave, poderá morrer sem ser tratado em um hospital. Grave é que para a classe trabalhadora brasileira, não trabalhar é sinônimo de não poder comer. 

Exigimos que o Governo ofereça um auxílio econômico mensal e que as empresas não demitam até passar a pandemia do coronavírus.

Exigimos medidas socioeconômicas do Estado que promovam a distribuição da riqueza e da renda, pois a ganância por lucros e privilégios de uma minoria não pode estar acima da vida do povo. 

Exigimos que nenhuma família seja despejada de sua moradia, que nenhuma comunidade seja despejada de seu território, que sejam, portanto, suspensas todas as ordens de reintegração de posse. Nenhuma pessoa, nenhuma família pode ser colocada na rua ou à margem de estradas, ao relento, ficando vulnerável ao contágio do Coronavírus.

Exigimos atenção e assistência às pessoas em situação de rua, para que sejam acolhidas em abrigos improvisados nos ginásios de esporte, nas escolas, entre outros espaços adequados e lhes sejam oferecidas higienização e alimentação adequadas.

Exigimos também que os hospitais particulares e os planos de saúde também acolham e tratem todas as pessoas que precisarem de tratamento e internação. Hospital que se negar a acolher e tratar quem precisa estará omitindo socorro, o que é crime. Os hospitais privados e os planos de saúde ganham muito dinheiro ao prestarem serviço público e tem a obrigação de não negar atendimento.

Repudiamos o aumento de preço de itens de primeira necessidade para prevenção do contágio do coronavírus, como o álcool gel.

Alertamos também para o fato de que comprar mantimentos para estocar, como têm feito algumas pessoas com condições financeiras para tal, além de ser uma atitude extremamente egoísta, fará com que o preço dos alimentos aumente, dificultando o acesso para os empobrecidos.

Exigimos que os governos distribuam mantimentos, em especial para desempregados, trabalhadores informais e pessoas em situação de rua. O Estado e a sociedade devem organizar medidas eficazes de atendimento a pessoas em situação rua (que não tem casa), para mulheres da batalha em situação de prostituição, para os presos que estão em prisões superlotadas. Como cuidar de todos que não têm casa? Como proteger os caminhoneiros, os garis, os/as profissionais da saúde e todos/as os/as trabalhadores/as dos serviços essenciais para a manutenção da vida do povo?

É urgente defendermos de forma aguerrida o fortalecimento do SUS. Exigimos a revogação da Emenda Constitucional 95 que congelou por 20 anos os investimentos em saúde e educação.

Defendemos a realização de Auditória Cidadã da Dívida pública e que o Governo pare de pagar 1 trilhão de reais por ano (quase 50% do orçamento) em juros e amortização dessa famigerada dívida pública. Quantos hospitais poderiam ser construídos com esse dinheiro? Quantos profissionais de saúde poderiam ser contratados? Como seria a expansão do coronavírus se esses recursos fossem investidos em prevenção? Ajudaria muito se continuassem atuando no SUS brasileiro os 10 mil médicos cubanos mandados embora por Bolsonaro. Que os médicos cubanos sejam chamados com urgência para ajudar no socorro ao povo brasileiro.

O coronavírus está demonstrando o que a classe dominante por egoísmo e ganância insiste em negar. Estado mínimo só beneficia a classe dominante, aumenta assustadoramente a desigualdade social e é assassino, pois sacrificará os pobres que contraírem broncopneumonia pela COVID-19, porque o Sistema Único de Saúde (SUS) sucateado não terá condições de atendê-los. Aliás, o SUS não é único, pois tem outro poderoso sistema: o privado, que mercantiliza a saúde das pessoas para acumular capital para grandes empresas do setor de saúde privada. O coronavírus está confirmando também a análise de Karl Marx segundo a qual na sociedade capitalista há luta de classes: classe dominante (detentora dos meios de produção e do capital) superexplorando a classe trabalhadora. Se os trabalhadores não vão trabalhar, a produção e a economia do país desabam.

Quanto antes nos distanciarmos uns dos outros fisicamente, até passar a pandemia do coronavírus, mais rápido poderemos nos abraçar para comemorarmos a superação dessa pandemia. Estamos todos no mesmo barco. Solidariedade libertadora e humanidade se tornaram condições sine qua non para continuarmos vivendo na nossa única Casa Comum, o planeta Terra.

Oxalá possamos aprender lições importantes com essa disseminação acelerada do Coronavírus, que nos alerta para a necessidade da empatia, da defesa da vida, ainda que muitos, em seu egoísmo, em sua ignorância, incapazes que são de pensar no bem comum, queiram priorizar os lucros e a acumulação de capital. 

Que a luz e a força divina nos guiem, nos protejam e nos inspirem  na prática de todas as cautelas e lutas necessárias em defesa de uma vida digna para todos e todas e para toda a criação,   para, assim, construirmos uma sociedade justa, solidária e sustentável ecologicamente. Enfrentemos essa noite escura de cabeça erguida, com muito amor no coração e com esperança, fazendo nossa parte, pois o Deus da vida está conosco nos abençoando. Fiquemos sem abraço, sem aperto de mão e sem beijos até superarmos a pandemia do coronavírus para que possamos nos abraçar depois. Frei Gilvander Moreira.

Obs.: Segue, abaixo, a mesma Nota, em vídeo.