Prelazia de São Félix do Araguaia e provincial dos Missionários Combonianos: prisão de Luta e contexto atual.
1) Nota da Prelazia de São Felix do Araguaia sobre a ordem de prisão contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
A Prelazia de São Félix do Araguaia com o seu Bispo Dom Adriano Ciocca Vasino, o Bispo Emérito Dom Pedro Casaldáliga e agentes de pastoral (leigas e leigos, religiosas e religiosos), vem, por meio desta nota, unir-se aos clamores em defesa da Democracia, pela superação das desigualdades.
Em sua caminhada profética na luta pela justiça, sinal do Reino de Deus, juntamente com os atores sociais de nosso território, sobretudo os povos originários, Indígenas, Quilombolas, Posseiros, Retireiros, Agricultores Familiares que animam o sonho da convivência e permanência na sagrada Mãe Terra, manifestamos nossa indignação frente ao atual momento histórico, com a fragilização das conquistas e dos direitos sociais no campo e na cidade.
Desde 2013, constatamos a perseguição virulenta aos governos populares (Lula e Dilma), aos militantes e a todos os que buscam construir uma sociedade justa e digna para todos no Brasil e na América Latina se opondo à ditadura do capital internacional. Prova disto é a recente prisão do Padre Amaro, da Prelazia do Xingu, PA, e a execução sumária da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro. A culminância deste processo de violência por parte da mídia, parlamentares e judiciário brasileiro é o decreto de prisão do Presidente Lula.
Nestes tempos temerosos, em que os servidores do sistema neoliberal buscam assombrar o povo por meio da pedagogia do MEDO, lembramos as palavras do Papa Francisco: “Esta economia mata!”
Seguidoras e seguidores do Ressuscitado, continuaremos lutando animados pela utopia do REINO e motivados pelas palavras de Pedro Casaldáliga: “Nossas causas valem mais que nossas vidas”.
Como Prelazia de São Félix do Araguaia, reafirmamos com o Papa Francisco: “Não deixem que nos roubem a ESPERANÇA!”
São Félix do Araguaia, 07 de abril de 2018
2) Nota do provincial dos Missionários Combonianos sobre a prisão de Lula e contexto de injustiças gritantes.
“Num momento extremamente complexo da vida política e das relações sociais do Brasil, é preciso nos posicionar, todos nós que dedicamos a vida para um País onde todas as pessoas e a Criação tenham vida plena.
Não quero entrar no mérito da análise das decisões jurídicas específicas, nem me declarar de forma absoluta sobre a atuação política ou a honestidade de um ou outro partido.
Analisemos, porém, a sequência dos fatos, a disparidade de tratamento reservada aos atores na cena política dos últimos anos, as análises de observadores externos e supostamente menos influenciados pelas disputas de poder nacional.
Distancio-me decididamente do fanatismo antipetista que tem conquistado de forma visceral e agressiva as mentes e corações de muitas pessoas.
Não defendo acriticamente as decisões e a gestão das coalizões de governo conduzidas por esse partido.
Porém está claro para muitos de nós que a sequência de decisões, desde o impeachment até o mandado de prisão do ex-presidente Lula, evidenciam um projeto de desmonte de direitos coletivos adquiridos a custa de muita luta e organização popular.
Uma parte muito influente do poder judiciário e, mais recentemente, do poder militar demonstram estar a serviço desse projeto.
Preocupa-me o nível de violência e intolerância que está se espalhando na população, fomentado pela mídia e por estratégias de manipulação da verdade através das redes sociais.
O ódio, que está sendo concentrado ao redor de figuras históricas, instituições e movimentos sociais em nosso País, está impedindo qualquer forma de debate, aprofundamento e sadio discernimento, mesmo a partir de diversos e legítimos pontos de vistas e projetos de sociedade.
Assim, em lugar de promover políticas e políticos que busquem a afirmação de direitos coletivos e a garantia da qualidade de vida para toda a população, ela está sendo “distraída” e reduzida à disputa em favor ou contra de uma só pessoa. Esse clima de divisão e combate cultiva o fanatismo e favorece unicamente o projeto de desmonte que denunciamos acima.
Quer preso, quer livre, o ex-presidente Lula representa um projeto histórico e político que tem o direito de ser avaliado pela população através do voto. Não admitamos a violência, mas apoiemos a posição firme de quem defende esse direito”.
Padre Dário Bossi – Provincial do Missionários Combonianos no Brasil, 6 de abril de 2018.