Na pandemia, SUPRAM e CMI aprovam licença para que Mineradora Canadense avance sobre as comunidades atingidas em Riacho dos Machados, no norte de MG

Na pandemia, SUPRAM e CMI aprovam licença para que Mineradora Canadense avance sobre as comunidades atingidas em Riacho dos Machados,  no norte de MG

Cerca de 800 pessoas trabalham na mineração em Riacho dos Machados — Foto: Juliana Peixoto/G1

No dia 28 de agosto de 2020, a CMI (Câmara de Atividades Minerárias), do COPAM (Conselho de Política Ambiental de MG), que tem o poder de aprovar as licenças ambientais dos projetos das empresas mineradoras, aprovou licença ambiental para que a Mineradora Riacho dos Machados aumente a cava em direção da comunidade Piranga, no município de Riacho dos Machados, no norte de Minas Gerais.

Com a nova licença ambiental da mineradora Equinox Gold/MRM, a comunidade Piranga ficará a aproximadamente 400 metros da área da cava. A comunidade já sofre com as explosões, poeira, riscos e ameaças de contaminação das águas e várias outras mudanças negativas que a mineradora trouxe para a localidade. Além das constantes crises de saúde dos comunitários.

A empresa MRM está em fase de revalidar a Licença de Operação, que venceu em julho de 2020. Mas pelo que assistimos, a estratégia é criar adendos, licenças discutidas separadamente do todo do projeto. Esta é uma manobra para facilitar a maquiagem legal dos projetos de mineração. As comunidades e organizações se manifestaram contra a concessão de licença, pois avaliam que todos os processos devem ser discutidos na avaliação da licença de operação, pois o projeto atual é bastante diferente do que foi aprovado nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e no Relatório de Impactos ao Meio Ambiente (Rima) original. Ainda, há vários processos contraditórios que ocorrem envolvendo a mineradora MRM e a SUPRAM/SEMAD: 1) Alteamento ilegal da barragem de rejeitos; 2) embargos da barragem de água, que funcionou muitos anos com licenças provisórias; 3) retiradas de água subterrânea das comunidades do entorno; 4) suspeitas muito sérias de contaminação das águas e do solo e resultados de análises que apresentam metais pesados para além dos níveis aceitáveis.

A participação de uma pessoa da comunidade e de entidades da região trouxeram os graves problemas e riscos vividos pelas comunidades locais, mas não foi o suficiente para sensibilizar os conselheiros da CMI. Eles parecem que não tem coração ou tem “coração de pedra”. Alguns mostraram preocupações com a comunicação entre a empresa MRM e a comunidade. Pareceu-nos mais preocupados com a imagem da empresa MRM do que com os problemas reais. A empresa deveria comunicar o que? Que as famílias sofrerão mais com o avanço da mineradora? Isso já é por demais sabido. Quanto mais avança os projetos minerários mais devastação vai acontecendo.

A Supram Norte de Minas fez um parecer favorável ao avanço da cratera na direção da comunidade Piranga. O presidente da CMI, Yuri Trovão, que faz parte da SUPRAM NM, tentou desqualificar as falas das organizações locais, dizendo que as questões colocadas estavam fora da pauta. Injustamente e covardemente, operam o Estado a serviço dos interesses capitalistas das empresas. As medidas de mitigação dos impactos “para inglês ver” estão muito longe de resolver algum problema. Assim, o Governo de Minas Gerais em conluio com as mineradoras aumentam a degradação ambiental e a exploração das comunidades. A mineradora MRM pretende minerar por no mínimo mais 10 anos (a licença tem o prazo de 10 anos). Certamente aumentarão os problemas e a injustiça socioambiental que já clama aos céus!

“Malditas todas as cercas!”, dizia Dom Pedro Casaldáliga. Precisamos acrescentar: “Malditas as licenças expedidas pela CMI do COPAM em Minas Gerais”, pois são licenças para matar a dignidade da pessoa humana e as condições objetivas que asseguram a reprodução da vida.

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Comissão Pastoral da Terra (CPT/MG)

Montes Claros, MG, 29 de agosto de 2020.