“Terra, Trabalho e Teto!” Viva a luta sagrada do Povo!

“Terra, Trabalho e Teto!” Viva a luta sagrada do Povo!

Nós, trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, com nossas organizações e movimentos, juntamente com as Pastorais Sociais, nos reunimos nos dias 6 e 7 de Abril de 2018, na Casa de Pastoral, no Bairro Santo Antônio, em Montes Claros, MG, para refletir sobre o diálogo entre o Papa Francisco e os Movimentos Populares.

A fala do Papa Francisco “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos” nos da ânimo para continuar a nossa caminhada. Pudemos olhar mais uma vez para a realidade dos pobres e marginalizados do nosso país. Reafirmamos nossa luta, à luz das palavras do Papa: “Terra, casa e trabalho, aquilo pelo que lutais são direitos sagrados. Exigi-lo não é estranho, é o ensino social da igreja”.

A ditadura do dinheiro tira os direitos dos pobres, dos sem-terra, dos desempregados e dos povos tradicionais que vivem no campo. Escraviza e nega o acesso do povo pobre a uma vida digna. Vimos que o sistema econômico baseado no “deus dinheiro”, marcado pela indiferença, violência e exclusão, destrói a natureza e inviabiliza a construção de uma sociedade justa, solidária, fraterna e sustentável ecologicamente.

Atualmente, no Brasil, a violência está sendo usada para intimidar, oprimir, inviabilizar os processos que podem trazer dignidade aos pobres. A violência em diversos sentidos: do judiciário, legislativo, do executivo e os ataques cruéis encomendados por parte da elite que manda matar descaradamente as lideranças populares. Com a consolidação do golpe em 31/8/2016 e o “governo” do ilegítimo Temer, aprofundamos neste Estado de Violência. No ano passado (2017), assassinaram 65 lideranças no campo, e sofremos neste ano o cruel assassinato da Marielle Franco, no Rio de Janeiro, e de muitos camponeses em várias partes do país.

Vemos hoje no Brasil a perseguição do poder judiciário àquelas lideranças que lutam pela construção de um mundo melhor para todos, como no caso da prisão do Padre Amaro, da CPT de Anapu, no Pará, mas também de muitas outras lideranças que estão sendo criminalizadas.

Manifestamos aqui nossa solidariedade ao ex-presidente Lula. A pressa e a seletividade da prisão mostram que o poder judiciário está a serviço do “Deus dinheiro”. Enquanto a atenção de todos é voltada para este fato, os direitos dos trabalhadores estão sendo retirados e as benesses para os ricos aumentam, como no recente caso do desconto aprovado pelo Congresso aos grandes proprietários rurais, no valor de 15 bilhões de reais. Este é um dos exemplos onde os donos do dinheiro controlam o Estado em defesa de causa própria.

Avaliamos que nossas organizações vêm acumulando experiências muito importantes. Nas dificuldades e na escassez, criamos novas formas de ver, (com)viver, respeitando a natureza e valorizando as pessoas e as suas formas de fazer. Somos capazes de construir caminhos para um mundo melhor. A indiferença de alguns não vai destruir nossa esperança. Esperança renovada no diálogo, no respeito às diferenças e certeza de um mundo justo e solidário.

Temos muitas lutas pela frente, como no caso dos diversos despejos contra a população pobre do Norte de Minas – urbanos e camponeses. Ainda a crise da água que vivemos – grande injustiça hídrica -, que afeta toda a região, agravada pela monocultura do eucalipto, grande parte em terras devolutas e pela exploração desenfreada das águas subterrâneas.

Reafirmamos aqui a nossa caminhada ao lado do povo de Deus, fiel ao Deus dos Pobres e aos Pobres da Terra.

Reassumimos a aliança pela causa do povo sem-teto, sem-terra e sem-trabalho.
Lutamos pela manutenção dos nossos direitos e reafirmamos também nosso compromisso e cuidado com a Mãe Terra. Assim, a luta e o clamor dos excluídos fazem-se ecoar nas terras dos Gerais.

Montes Claros, norte de MG, 7 de abril de 2018.

Assinam esse Manifesto: 

Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral do Menor, Pastoral da Criança, Pastoral Carcerária, Pastoral do Povo de Rua, Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Irmãs Carmelitas de Vedruna, Irmãs da Divina Providência, Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação, Conselho Nacional de Leigos (CNLB) da Arquidiocese de Montes Claros, Casa de Pastoral Comunitária, SINDUTE, Famílias Sem Teto, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Acampamento Pedro Teixeira/Garrote, Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), Atingidos pela Barragem de Jequitaí, Quilombolas de Brejo dos Crioulos, Associação Rural Catarina, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo (MTC), Associação dos Vazanteiros e Pescadores da Comunidade da Venda, Comunidade Pescadora/Quilombola de Caraíbas e Croatá, Movimento das pescadoras e pescadores artesanais, Frente Brasil Popular, Coletivo de Advogados Populares São Francisco, Movimento Nacional do Povo de Rua (MNPR), – Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Comunidades Geraizeiras.